domingo, 25 de setembro de 2011

Cap. IX - Patchouli

Naquele ano meu aniversário foi como todos os outros, apenas Lucas e eu comendo bolo e jogando videogame o dia todo. Não chamei os caras nem comentei sobre meu aniversário pois eles não são do tipo que se deixa frequentar a casa. E também aproveitei para ficar um tempo com Lucas já que nos afastamos um pouco nos últimos 2 anos.
Ao mesmo tempo que eu estava para a volta às aulas e me sentindo um pouco mais adulto com meus recém 15 anos, estava muito preocupado e com medo do ano que me aguardava.

Infelizmente  Lucas não caiu na minha sala aquele ano, mas por outro lado caiu na sala de Ellena, assim eu poderia saber um pouco mais sobre ela, depois de tanto tempo...
Todos muito eufóricos, como se cada coisinha fosse um e.t. Pareciam diferentes, mesmo eu conhecendo a maioria e os ''bagunceiros'' do colégio foram convidados a se retirarem, isso fazia com que o clima da tarde fosse mais sério. E como eu suspeitava, tive uma recepção após o intervalo, no banheiro masculino.
 - Chinoca !!! Senti sua falta... - aquela voz  sínica invadiu meus pensamentos, jogando-me contra a parede.
 - Sai pra lá, nojento ! - empurrei Kato para longe de mim, fazendo-o esbarrar em Nelson. Os primos Ganawa estavam sempre juntos e como vi apenas dois deles, fiquei alerta. Senti alguém aproximar-se por trás e antes que tentasse alguma coisa, já havia o imobilizado. Era ele, Mário.
 - Quanta violência, eu hen.. - Disse Nelson saindo do banheiro como se estivesse sentindo um mal estar. - Sem confusão hen Kato.. Até mais Yang...
Mário tentou soltar-se em meio a resmungos e prováveis xingamentos em japonês.
 - Abaixa a bola, Chinoca. Só quero conversar e esclarecer umas coisas, não vai levar nem um minuto.
 - Não tenho nada pra conversar, então... - dei de ombros.
 - Ah, tem sim! - ele fez uma pausa e um profundo suspiro - Tadinha da Ellena ...
Seu tom teatral me fez diminuir a firmeza das mãos, assim Mário soltou-se indo para trás de seu primo.
 - Ficou interessado?
 - Nem um pouco ... - tentei parecer entediado.
 - Pois bem, você vai ficar o mais longe possível dela, não vai olhar pra ela..
 - E por que? - o interrompi.
 - Porque eu decido assim .. aqui não tem espaço prum marginal como você!
 - Tá perdendo o amor por seus dentes?
 - Está me ameaçando ?
 - Eu não ameaço! - Estávamos face a face, meu sangue fervia com a distancia mínima entre nós. Eu estava prestes a descontar toda minha raiva e faze-lo engolir cada palavra, quando uma pequena mão fria nos afastou pedindo passagem.
 -Licença meninos.
Nós três ficamos assustados ao ver Ellena entrar no banheiro masculino como se fosse a coisa mais normal do mundo e sem perceber o que estava acontecendo.
 - Lena, acho que entrou no banheiro errado... - Kato pareceu nervoso com a situação.
 - Ah não, o feminino está trancado e quero lavar o rosto... - ela dirigiu-se despreocupadamente à pia e lavou o rosto aproveitando a água fresca. Nós três ali, olhando-a como estátuas humanas, a atmosfera antes de hostilidade tornou-se perplexa.
 - Se importam ... ? - disse ela apontando para um dos boxes e assim saímos imediatamente.
Kato foi-se com seu primo sem dizer mais nada e me deixou confuso. Sentei-me nas escadarias próximas ao pátio para entender melhor o que havia acontecido, as idiotices que aquele japonês nojento tinha dito não faziam sentido, assim como ele era um completo sem noção. E Ellena, o que estava pensando ao fazer aquilo? Como pode entrar no banheiro dos meninos daquela forma tão despreocupada ainda mais para usa-lo ? Ela realmente não tinha noção das coisas, todos estavam nas salas e ninguém poderia ajuda-la se algo acontecesse.
Eu não conhecia muito bem os meninos da tarde e nem precisava conhece-los, por isso não podia deixar Ellena  sozinha no banheiro. Quando pensei em ir para verificar, até mesmo antes de pensar em levantar, alguém sentou-se ao meu lado com um  aroma de Patchouli*, um dos meus favoritos aromas.
 - Ninguém apareceu por lá, ainda bem ne ?!

*O aroma do patchouli é forte e, mesmo considerado agressivo por algumas pessoas, tem sido utilizado durante séculos em perfumaria. O seu aroma é considerado relaxante por diversas pessoas.São atribuídas várias propriedades benéficas tanto à planta quanto ao seu óleo essencial, principalmente por parte dos adeptos de medicina alternativa e ervanários.Patcholi: afasta o mal e o negativo.

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