terça-feira, 26 de abril de 2011

UPI. Cap IV - Kato, o inimigo?

Pela primeira vez na vida brinquei e me comportei como uma criança de verdade, mais ainda tinha receio ao me aproximar de alguém. Ma gostava muito de Lucas e sua mãe, assim ele iam em nossa casa com frequencia para nós dois brincarmos e nossas mães conversarem.
- Seu pai me dá medo!
- Não se preocupe, ele não fará nada com você...
- Honoravel mestre - Lucas adora imitar a forma como me referia ao meu pai, mas nunca me perguntou o porque, eu também achava melhor assim.
Num certo dia, combinei com Lucas que levariamos alguns brinquedos pra escola e, claro, os meus eram um pouco diferentes e ousados do que os de qualquer um...
- Ha~ olha isso, Nelson! O chinês resolveu se aparecer... - um garoto japonês disse isso ao tomar um de meus brinquedos das mãos de Lucas.
- Deixe os dois aí, vamos jogar bola Kato...
- Claro que não, vamos brincar com eles! - seu tom era hostil enquanto o suposto Nelson parecia indiferente e mais preocupado com o futebol. - Olha, made in China. Hey chinoca, quer brincar de casinha, huh? Você vai ser a mamãe e seu amigo o papai, huh ?! - disse dando-me um empurrão - Tá com medinho é?!
Kato continuou me provocando, enquanto em minha mente só vinham lembranças assombrosas em Xangai.
- Seu nojento, você vai ver... - Lucas preparou um chute que provavelmente acertaria a boca de Kato, mas teve sua perna segurada por Nelson, a tempo de não causar um estrago no rosto do outro.
- Nem pense nisso, muleque. - disse Nelson calmamente - Deixe que seu amiguinho se defenda sozinho... - Lucas tentou atingir o menino do jeito que fosse, mas foi imobilizado com uma chave-de-pescoço e suas pernas bem afastadas uma da outra, foi tão rapido que Lucas quase não viu Nelson se movimentar.
Kato puxava-me pelo cabelo após dar uns chutes em minha barriga, preparou um soco em direção ao meu rosto, fechei os olhos apenas implorando para que o Buda mandasse alguém para me socorrer...
- ALI!
- PAREM JÁ VOCÊS QUATRO !!!
A primeira voz me parecia familiar e a segunda era minha prece atendida. Ellena veio correndo com a supervisora. Claro, nossos pais foram chamados e nós quatro advertidos. Em casa, o honoravel mestre me bateu pelo motivo ja mencionado anteriormente, queria muito choras mas se o fizesse apanharia mais. Lucas ligou em casa pouco antes do jantar que não seria para mim, honoravel mestre não permitiu que eu atendesse mas ma ligou escondida para ele, deixando que conversássemos por uns minutos.
- Você tá bem Lee? Seu pai brigou muito?
- Huhm...
- Desculpa, o japa magrelo foi mais rapido que eu...
- Tudo bem. - fiz uma pausa - xiexie, ninguém nunca me defendeu antes.
- Qual é, Lee? Você é meu amigo e sabe de uma coisa? Vou tentar te proteger, nem que me batam até chorar!
- Eu também, Lu.
- É promessa, irmão!
Quando desliguei o telefone, desabei em lagrimas quentes no colo de ma e ali adormeci. Chorei pois sabia que Kato  não me daria paz, por apanhar do mestre, por saber que tinha um amigo e sem entender muito bem, chorei porque Ellena trouxe ajuda.
No dia seguinte bem cedo, queimei incensos, ofereci arroz e umas moedas seguidas por agradecimentos e preces de proteção ao Buda. Mais tarde na escola, Kato ficou me marcando de longe apenas. Vi Ellena conversando com Kato. Se fosse apenas isso, tudo bem, mas ela estava mais tarde sorrindo ao lado de Nelson. Me senti traído. Não! Não sei explicar o que era, só fiquei inquieto, afinal ela era da nossa sala, da terceira serie e não deveria falar com dois meninos da quarta serie e que haviam batido em meninos mais novos e indefesos.Na sala , depois do recreio, Ellena veio falar comigo e com Lucas.
- Vocês dois estão bem? - ela parecia realmente preocupada - Nelson não vai mexer com vocês e nem Kato, falei com eles e está resolvido , eu espero!
A partir dali, ela tornou-se nossa amiga.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

UPI. Cap III - Primeiro dia de aula

As ferias finalmente acabaram, dando inicio ao segundo semestre, que no meu caso, seria o primeiro no Brasil. Acordei cedo neste dia, na verdade quase não dormi, estava muito ansioso e apreensivo com o primeiro dia na escola nova. Não tinha esperanças de que seria bom ou que eu iria fazer amigos facilmente. A todo momento me vinha à mente lembranças horríveis...
A escola era perto de casa, ma e o honoravel mestre me levaram a pé para que eu pudesse aprender o caminho. A fachada da escola lembrava uma igreja, em tom salmão com muros baixos e cinza, era extensa ocupando dois quartos do quarteirão. Meus pais foram conversar com a orientadora do primário, explicaram para a mesma minha situação, o honoravel mestre me rotulou como ''o garotinho chinês problematico'' mas ma insistia em dizer à senhora que eu era muito inteligente e avançado para minha idade e disse também que estudei na melhor escola de Xangai, isso fez com que minha futura orientadora criasse dentro de si um dever de me controlar até o ultimo fio de cabelo. Já havia soado o sinal quando ma me acompanhou até a sala, entrei após me despedir dela. Algumas crianças estavam me encarando, outras brincando pela sala enquanto o professor ou professora não vinha.
Tímidamente me dirigi até o fundo da sala. Me sentei na penultima carteira proximo a janela, cabisbaixo. Estava esperando que alguém viesse me atazanar, em vez disso , ouvi uma vós rouca e baixa soando em minha direção:
- Este lugar é meu japa... - me virei cautelosamente e deparei-me com a figura de um garoto moreno e esguio me fitando- Este lugar é bom não é?! Mas é meu , se quiser pode se sentar atrás de mim ! - um sorriso simples brotou em seu rosto. Eu apenas me levantei silenciosamente e sentei-me no lugar indicado. O garoto se apresentou como Lucas de Oliveira, enquanto isso senti como se estivessemos sendo observados.
- Lee Yang ?! Vocês japas e seus nomes estranhos - Lucas parecia se divertir com meu nome, repetindo-o varias vezes.
- Ele não é japonês, é chinês ! - a pessoa que pensei estar nos observando proferiu tais palavras, como se estivesse se ofendido em relação a minha etnia no meu lugar, se aproximando.
- Dá na mesma, Lena .. Lee... Lee o que mesmo ?!
- Sou Ellena Fernandes ... - a garota ignorou a pergunta de Lucas, apresentando-se com um sorriso um tanto familiar para mim.
Me lembro perfeitamente de Ellena em todos os momentos. Naquele, seu cabelo cacheado estava preso com uma borboleta azul enfeitando; morena clara de aparência saudavel , o contrario de Lucas. De imediato a tratei com indiferença, ignorei sua presença. Não sei porque fiz aquilo. O esperado da garota seria que ela me incomodasse ou saisse choramingando como toda menina de oito anos faz. Ellena apenas fixou seus olhos em mim com o mesmo sorriso. Seu olhar era penetrante, parecia que ela tinha o poder de ler a alma das pessoas. Tentei adivinhar no que ela estava pensando, sentindo, seu rosto pareceu tão angelical que me deixou incomodado, não conseguia desviar o olhar. Ficamos nos encarando por alguns segundos, logo ela se distraiu com uma amiga, indo para seu lugar com a chegada da professora.
Durante todo o dia falei conversei com Lucas, na verdade apenas o escutei, eu não era de falar muito, já ele parecia ter um papagaio dentro de si. Falou-me sobre sua vida simples, dos colegas da escola, dos desenhos que gostava e das brincadeiras, depois como era o Brasil, os costumes tão diferentes dos chineses. Assim seguiu-se durante a semana, Lucas manteve-me a par do modo de vida brasileiro, sempre me acompanhando em tudo. Na proxima semana senti-me mais a vontade para contar-lhe sobre a China e minha vida e ele escutando espantado:
- Minha Nossa, Lee !!! No seu lugar eu não aguentaria isso.. mas relaxa, aqui não é assim, ta bom ?!
Aquele bimestre se passou e o garoto era o unico a me dar atenção além da professora e a orientadora. Mas não demorou muito para outras pessoas perceberem a minha presença.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

UPI. Cap.II - Brasil

  Assim que desembarcamos no Paraná, pude perceber que o clima e as pessoas eram completamente diferentes do que eu estava acostumado. Fiquei tão surpreso e ansioso que até esqueci o cansaço da viagem. Enquanto o taxi rodava pela cidade, ma e eu olhavamos animados pela janela, comentando e apontando tudo e todos. Pude notar que o motorista, um homem velho e muito simpatico achou graça de nossa reação, ao contrario do honoravel mestre que achou desnecessaria nossa empolgação:
     - Meiyan, controle-se e o xiao  Yang também. Não gastem suas energias nos primeiros minutos aqui, afinal terão tempo de sobra para isto - disse ele em tom raivoso deixando todos em uma atmosfera carregada, como se fosse explodir a qualquer momento. O honoravel mestre, mesmo não sendo amável comigo não perdera o costume de chamar-me de xiao, que significa pequeno. Mas como sempre, ma o ignorou, continuando a tagarelar sobre seus planos na cidade. Poucas quadras antes de nossa nova casa, o táxi passou vagarosamente frente a uma praça feita aos povos chineses e japoneses. era uma tipica praça oriental com um enorme portal vermelho onde se encontrava ideogramas dizendo '' Paz e Harmonia entre as Nações'' . Ma ficou encantada.
     - Olhe só xiao Yang, não é linda? Viremos aqui com frequencia para brincar e conhecer a vizinhança, huh!  - muqin proferiu tais palavras com um belo sorriso, o sorriso que sempre me fizera esquecer a rigidez do honorável mestre Lee Yeng.
Logo chegamos a casa, localizada em um bairro central, sua fachada era acolhedora de estrutura chinesa. Adentramos na mesma e tive vontade de correr pelo quintal espaçoso, mas logo muqin me conduziu para dentro: fiquei boquiaberto pois a casa era muitíssimo parecida com nossa antiga casa em Xangai, me trazendo uma grande sensação de segurança. Fui para o quarto destinado a mim e, para uma nova surpresa de minha parte, o quarto estava decorado exatamente como meu quarto da casa antiga, fui tomado de felicidade ao ver meus brinquedos e, de repente, a exaustão me agarrou.
    - O que achou, xiao Yang? - disse ma ao entrar no quarto, sem que eu a notasse. Apenas sorri levemente para ela - Vá tomar um bom banho, vista roupas limpas e descanse um pouco , meu pequeno, o acordarei mais tarde! Vamos sair para comer ... - Obedeci imediatamente, mas ao em vez de descansar eu apaguei literalmente.
Algumas horas depois, ma me acordou para irmos jantar. Fomos a um restaurante chines, onde a comida era otima, depois passeamos pelo bairro, muito tranquilo por ser noite porém completamente estranho para nós. Pude notar que o honorável mestre estava mais delicado com minha honorável muqin. Foi assim durante uma semana - a ultima semana das férias de julho - conhecemos toda a cidade, todos os restaurantes centrais e, como ma havia prometido, brincamos na praça perto de casa e conhecemos a vizinhança. Todos muito hospitaleiros e calorosos! Interessados sobre nós. Ma ja estava acostumada com estas coisas, pois nascera no Brasil ao contrario do honoravel mestre, que não gostava nenhum pouco do calor humano brasileiro...

UPI - Cap I - Adeus, China...

Já naquela época eu pensava se alí era realmente o meu lugar, me perguntava o que havia de errado  comigo para não ser aceito por meus semelhantes...
Tive a criação rigorosa de uma familia tradicional chinesa e estudei desde pequeno em uma tradicional escola de Xangai, minha cidade natal. Porém minha alma era grande demais para ser presa aos costumes do país e regras da escola, era frequêntemente repreendido pelos mestres e ignorado,humilhado, motivo de chacota para os outros alunos. Não tinha amigos, vivia sozinho e com medo, sem saber me defender. Até que num dia qualquer de meus recentes 8 anos, fui abordado no caminho pra casa por outras crianças que costumavam me perseguir. Pensaram que eu iria fazer como sempre, obedecer para não ''sofrer'' muito - era assim que eles diziam antes de me perturbar - mas neste dia, eu estava revoltado, cansado de todas as maldades que faziam comigo; crianças sendo cruéis com outras crianças... Então revidei a provocação, pensei que poderia me defender desta vez, mas eu estava enganado! Apanhei como nunca na vida, eles levaram meus sapatos e minha mochila, me deixando ali na rua como um semi-morto, fiquei sem saber o que fazer. Eu acabara de ser espancado mas estava feliz não ter simplesmente ficado quieto, pela primeira vez eu mostrei que sangue corre em minhas veias. Quando finalmente consegui chegar em casa, levei outra surra de meu pai, Lee Yeng, por não saber me defender e o envergonhar perante a vizinhança - meu pai era um dos melhores mestres perfumistas de Xangai e Nanquin e costumava ser muito duro comigo - suas palavras estão em minha mente até hoje: ''Não coloquei filho no mundo para ser fraco e trazer desonra para nossa familia'' . Depois disso não fui capaz de olhar em seus olhos ou chamá-lo de pai até uma certa idade. Na escola as coisas ficaram cada vez piores, mas meu sofrimento durou mais cinco meses, cinco longos e dolorosos meses. os negocios do honorável Lee Yeng estavam em decadência em Xangai e Nanquin, mas a filial brasileira prosperava cada dia mais. Por este motivo deixamos a China em Julho, rumo ao Brasil. Eu estava nervoso, afinal não estava mudando de uma província para outra e sim de um continente para outro. Meu português não era bom nesta época, muqin - ou ma,que quer dizer mãe em chinês - me colocou na academia de linguas aos três anos e desde os seis anos, decidi me dedicar à lingua portuguesa, pois ma havia nascido no Brasil e, sabendo dos negocios do honorável Lee Yeng, era meu dever aprender português. Em dois anos havia evoluido muito, mas não o suficiente para agradar o honorável mestre. Contudo uma enorme sensação de alívio e liberdade tomava meu coração naquele momento, me via livre das perseguições... Não conseguia pensar em nada no caminho até o aeroporto nem dentro do avião, apenas lembro das unicas palavras que murmurei ao decolar o avião até chegar ao Brasil, ''adeus, China ...''

Segunda Noite de Reis

Boa noite pequenos gafanhotos!
Começarei a postar ''Um Perfume Inesquecível - UPI'' e  nas paginas que ficam ali ao lado, está a relação de personagens principais e a sinopse,  não fiquem perdidos !
Em breve poemas de alguns amigos. Se você escreve poemas, musicas, breves historias e quer que as pessoas tenham acesso a eles, é só comentar este post (^-^)v

Então, vamos falar um pouco de UPI... é uma historia fictícea baseada em personagens reais, como por exemplo o Nelson Ganawa que é uma amiga (Nany/Blisteriotesio), Sayuri e Nicole que terão breve aparição são outras amigas (Vane² e Nícole) assim como os primos Ganawa e os outros personagens, são pessoas específicas mas sem necessidade de serem mencionadas. O título foi tirado, na verdade copiado mesmo [afinal isso faz parte de uma fanfic] do livro ''Um perfume Inesquecivel'' de Ismael Batista/Otília (Espírito) mas a minha versão não tem nem como ser comparada ao livro. Então antes que venham dizendo ''aaah mas você está copiando e blabla'' não pequenos gafanhotos, fanfics são historias feitas a partir de um determinado livro, serie, banda, artista etc, com modificações no contesto, entendeu? '-' Mas se mesmo assim alguém ficar ofendido com algo pode entrar em contato comigo (comentando, twittando, etc).

 Zaijian õ/